Grupos de cristãos
pentecostais, muitos dos quais fazem da experiência o principal critério da
verdade. Pondo de lado a questão da validade do que buscam e declaram, uma das
características mais séria, de pelo menos alguns neo-pentecostais, é o seu
declarado anti-intelectualismo.
Um dos líderes desse
movimento disse recentemente, a propósito dos católicos pentecostais, que no
fundo o que importa” não é a doutrina, mas a experiência”. Isso equivale a por
nossa experiência subjetiva acima da verdade de Deus revelada. Outros dizem
crer que Deus propositadamente dá às pessoas uma expressão inteligente a fim de
evitar a passagem por suas mentes orgulhosas, que ficam assim humilhadas. Pois bem.
Deus certamente humilha o orgulho dos homens, mas não despreza a mente que ele
próprio criou.
Estas três ênfases - a de
muitos católicos no ritual, a de radicais na ação social, e a de alguns
pentecostais na experiência - são, até certo ponto, sintomas de uma só doença,
o anti-intelectualismo.
São válvulas de escape para
fugir à responsabilidade, dada por Deus, do uso cristão de nossas mentes.
Num enfoque negativo, eu
daria como substituto este trabalho “a miséria e a ameaça do cristianismo de
mente vazia”. Mais positivamente, pretendo apresentar resumidamente o lugar da
mente na vida cristã. Passo a dar uma visão geral do que pretendo abordar. No
segundo capítulo, a título de introdução, apresentarei alguns argumentos -
tanto seculares como cristãos - a favor da importância do uso de nossas mentes.
No terceiro, constituindo a tese principal, descreverei seis aspectos da vida e
responsabilidade cristãs, nos quais a mente tem uma função indispensável.
Concluindo , procurarei prevenir contra o extremo oposto, também perigoso, de
abandonar um anti-intelectualismo superficial para cair num árido
super-intelectualismo. Não estou em defesa de uma vida cristã seca, sem humor,
teórica, mas sim de uma viva devoção inflamada pelo fogo da verdade. Anseio por
esse equilíbrio bíblico, evitando-se os extremos do fanatismo. Apressar-me-ei
em dizer que o remédio para uma visão exagerada do intelecto não é nem
depreciá-lo , nem negligenciá-lo, mas mantê-lo no lugar indicado por Deus,
cumprindo o papel que ele lhe deu.
John R. W. Stott
Extraído do livro: Crer é também pensar.