Desafios Pastorais

Este artigo surgiu enquanto pensava
sobre o ofício pastoral e os seus
desafios. Ser pastor é mais
complicado do que muitos
imaginam, já o ser charlatão não é
nada complicado, basta aprender os
esquemas dos marqueteiros, montar
um sistema de rede, entrar na média,
e já está! No entanto, ser pastor de
verdade, conforme o modelo bíblico
é muito complicado.
Em todos os períodos da história os
pastores enfrentaram seus mais
variados desafios. Enquanto
arrazoava em meus pensamentos,
vieram-me a mente três destes
desafios:

O primeiro desafio que gostaria de
destacar é o despojar das coisas
materiais ou daquilo que é externo.
Vemos, segundo os relatos bíblicos,
que o primeiro encontro de Jesus
com aqueles que vieram a ser seus
apóstolos foi para convidá-los para
que se despojassem do que é
material, para o seguirem (Mateus
8:20). Nenhum dos apóstolos de
Jesus, e nenhum dos pais da igreja
(nos primeiros séculos) viveram
como ricos e nenhum deles morreu
rico. Principio que a Igreja Primitiva
seguiu no primeiro século, inspirada
por seus pastores (Atos 2:45). O
pastor precisa saber que na maioria
das vezes não terá em excesso, mas
terá o suficiente e algumas vezes terá
de menos (Filipenses 4:12).
O segundo desafio a destacar é o
despojar da própria vida. Após a
morte de Jesus (Marcos 15), da morte
de Estevão (Atos 7:59), e com as
perseguições aos cristãos (Atos 8) e
da morte do Apóstolo Tiago (Atos
12:2), os pastores das igrejas
perceberam que havia um nível
maior de renúncia, ou seja a própria
vida. Já haviam renunciado aos bens
deste mundo, e agora tinham mais
este desafio. Todos os apóstolos de
Jesus, com a excepção de João, foram
martirizados. Assim o martírio, a
semelhança da renúncia das riqueza,
passou a ser almejado pela igreja. Se
os pastores morriam por Cristo, a
igreja também deveria morrer. O que
conquistou Roma não foi a influência
da igreja ou o seu poder, mas o
martírio dos santos. Todos estavam
dispostos a morrer por Cristo, e se a
morte não aterrorizava mais os
cristãos, eles já haviam conquistado
o inimigo. O assunto foi tão sério
que St. Agostinho se viu obrigado a
escrever e doutrinar a igreja a este
respeito, para não permitir que o
martírio virasse suicídio. Nossa
herança pastoral tem a ver com a
morte deste corpo, não com o
conforto dele.
O terceiro desafio foi o despojar do
ego. Logo os pastores perceberam
que se a morte física trazia-lhes
alguma glória, então era necessário
um outro tipo de morte, a morte do
ego. Em Filipenses 2:5-8, podemos
ler sobre uma outra morte de Jesus,
sua morte para a glória deste mundo
e o esvaziar-se da sua glória celestial.
O Apóstolo Paulo percebeu que este
esvaziamento deveria fazer parte da
vida de todos os crentes, e por isso
sugere-nos o mesmo caminho e
sentimento. O inimigo agora não era
a riqueza, nem a perseguição da
carne, mas um inimigo interior. Na
história da igreja vemos algumas
vertentes deste despojar do eu, como
por exemplo no monasticismo, que
surgiu com St. António do Egito, e
mais adiante encontrado em novos
formatos na vida de outras figuras
históricas, como por exemplo João
Wesley.
Ser pastor não é fácil, e quem leva o
pastorado a sério logo vai se dar
conta disto. Mas sabemos que o
Senhor que nos deu esta
responsabilidade irá conosco e nos
ajudará a cumprir com sucesso a
nossa missão, tal como foi com
aqueles que vieram antes de nós. 

 Rev. Luis A R Branco